quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vinte e Zinco, Mia Couto

A acção decorre numa pequena vila colonial de Moçambique, nos dias imediatamente antes e logo após o 25 de Abril de 1974. A notícia da revolução ocorrida em Lisboa vai representar uma pedrada no charco, que vai abanar completamente a rotina dos habitantes desta pequena vila e fazê-los trocar instantaneamente de posições. Os moçambicanos vêem as suas esperanças de um Moçambique independente e livre crescerem exponencialmente, enquanto os poucos colonos brancos se interrogam sobre o que fazer face à perspectiva de uma onda de violência ou simplesmente desaparecem de mansinho. A queda do regime da Metrópole afecta especialmente Lourenço Castro, o inspector chefe da PIDE local, e a sua família.

Esta leitura revelou-se interessante, não só pela temática da queda do Estado Novo, que é um assunto que me agrada bastante, como pela belíssima linguagem deste escritor. As várias personagens tecem uma rede de contrastes. O inspector, sério e implacável durante o dia, que tem um cavalinho de madeira de brincar no quarto e não consegue dormir sem apertar nas mãos um pedaço de pano. Também o desprezo pela cultura africana de Lourenço contrasta totalmente com a vontade da sua tia Irene de entender a religião e os costumes dos indígenas e de absorver a sua cultura. Contrastam igualmente a esperança de alguns, como o mecânico Marcelino, na independência de Moçambique, e a tenacidade que empregam nas actividades nesse sentido, com a apatia do seu tio, que considera absurdo tentar mudar o mundo pois “O céu nunca pousará na terra nem a montanha descerá ao vale”.
No que diz respeito à história em si, não me prendeu nem um bocadinho. Sem dúvida que, para mim o ponto forte deste livro é mesmo a beleza da escrita, com expressões e jogos de palavras únicos.

Sem comentários:

Enviar um comentário