sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, José Saramago

Este livro é uma criação do que poderia ter sido a vida de Jesus Cristo, seguindo os principais acontecimentos do Evangelho bíblico, mas numa perspectiva mais humanizada, não do ponto de vista de Deus mas do ponto de vista dos Homens, e em especial de Jesus e, claro, não poupando críticas às atitudes de Deus e à religião em geral.

Permitiu-me desfrutar da fabulosa escrita de Saramago, que tanto aprecio, e que, sendo tão certeira e incisiva não deixa de ser divertida. Algumas passagens são verdadeiras pérolas literárias.
Apesar de algumas partes serem um pouco maçudas, gostei bastante deste livro, nomeadamente da recriação da vida de Jesus que Saramago tão bem conseguiu fazer, da história magnífica que criou e das personagens que construiu com base nas personagens bíblicas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Vinte Cinco a Sete Vozes, Alice Vieira

Este livro consiste no relato, por parte de sete pessoas de três gerações diferentes, dos seus conhecimentos e memórias relativos ao 25 de Abril de 1974. Foca-se, essencialmente, em memórias do que era a vida antes desse dia histórico, e das alterações imediatas que a revolução imprimiu no quotidiano da população. Procura transmitir a mensagem de que é necessário preservar a memória do que foi o Estado Novo, nomeadamente transmitindo-a aos mais jovens, para que não se subvalorizem determinados padrões de vida e pensamento hoje vigentes e que uma situação semelhante não volte a ocorrer no nosso país.

Não gostei. Achei-o demasiado simples, o que até é natural visto que se destina em especial a crianças.

Vinte e Zinco, Mia Couto

A acção decorre numa pequena vila colonial de Moçambique, nos dias imediatamente antes e logo após o 25 de Abril de 1974. A notícia da revolução ocorrida em Lisboa vai representar uma pedrada no charco, que vai abanar completamente a rotina dos habitantes desta pequena vila e fazê-los trocar instantaneamente de posições. Os moçambicanos vêem as suas esperanças de um Moçambique independente e livre crescerem exponencialmente, enquanto os poucos colonos brancos se interrogam sobre o que fazer face à perspectiva de uma onda de violência ou simplesmente desaparecem de mansinho. A queda do regime da Metrópole afecta especialmente Lourenço Castro, o inspector chefe da PIDE local, e a sua família.

Esta leitura revelou-se interessante, não só pela temática da queda do Estado Novo, que é um assunto que me agrada bastante, como pela belíssima linguagem deste escritor. As várias personagens tecem uma rede de contrastes. O inspector, sério e implacável durante o dia, que tem um cavalinho de madeira de brincar no quarto e não consegue dormir sem apertar nas mãos um pedaço de pano. Também o desprezo pela cultura africana de Lourenço contrasta totalmente com a vontade da sua tia Irene de entender a religião e os costumes dos indígenas e de absorver a sua cultura. Contrastam igualmente a esperança de alguns, como o mecânico Marcelino, na independência de Moçambique, e a tenacidade que empregam nas actividades nesse sentido, com a apatia do seu tio, que considera absurdo tentar mudar o mundo pois “O céu nunca pousará na terra nem a montanha descerá ao vale”.
No que diz respeito à história em si, não me prendeu nem um bocadinho. Sem dúvida que, para mim o ponto forte deste livro é mesmo a beleza da escrita, com expressões e jogos de palavras únicos.